segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

HORIZONTES

O peso das responsabilidades que assumimos nos põe cabisbaixos e, assim, fitando nossos próprios pés, enxergamos apenas um curto espaço adiante. Afogados em preocupações somos por vezes incapazes de ver, ainda que de soslaio, alternativas. Somos incapazes de ver além de nós mesmos, incapazes de ver o outro. Assim, de cabeça baixa, nos arrastando pela vida e ansiando por dias melhores mantemos nosso horizonte no chão. Lamentamos e nos furtamos a participar da construção de uma realidade diferente por já não mais acreditar que seja possível. Mantemo-nos preocupados apenas com nós mesmos, agarrados, por medo do risco, a uma zona de conforto que em nada nos consola.

Precisamos mudar nossas atitudes em face dos obstáculos, tomar os problemas por desafios e arregaçar as mangas, sem pudor assumir as rédeas do destino tornando-nos artífices de nosso próprio futuro. Ao termos como norte o bem comum, ao guiarmo-nos pelo justo convívio humano, somos capazes de somar forças e assim, ombreados, iremos além do senso comum. Seremos juntos potentes o bastante para construir resultados que se fazem inimagináveis ao analisar o covil em que se transformou a nossa política.

A nossa caminhada em direção a um futuro melhor é construída de pequenos passos, direcionados por nossas decisões e, sejam estas boas ou ruins, o caminho continua a ser percorrido. Querendo ter bons frutos devemos pensar e ponderar a cada pequeno passo, devemos decidir com honra o rumo que daremos as nossas vidas.

Pensar o bem coletivo não é tarefa fácil. Enquanto humanos somos falhos e naturalmente egoístas, é necessário conscientemente nos esforçarmos num exercício de piedade e razão compreendendo que o bem comum, o bem de todos, também é nosso próprio bem e, neste caso, lançado sobre bases mais sólidas e duradouras.

Ergamos, pois, as cabeças! Levantemos nossos olhos, ampliemos nossos horizontes que o futuro nos espera
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Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ
Representante Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Senhor, a conta!

Chegamos tarde! Apesar de encontrarmos as cadeiras viradas sobre as mesas, ainda assim, nos sentamos e com aquele olhar boêmio, já meio com sono, observamos os restos do banquete que findara há pouco. Cá conosco imaginamos: deve ter sido uma grande farra. Garrafas derramadas, taças meio cheias e sobras de todo tipo denunciavam a fartura. E, assim, com os cotovelos apoiados sobre a mesa contemplamos tudo aquilo. Lamentamos pelo que poderia ter sido e pelo que acreditamos ter perdido.

A lua alta no céu denuncia a hora avançada, ao longe, se houve até mesmo o cantar de um galo... os cães ladram a cada carro que passa. A brisa fria da madrugada nos arrepia. Uma sensação estranha nos toma, estamos tristes. A festa acabou, a banda não tocava mais. Os que banquetearam já haviam partido e ali apenas nós e os restos.

Balbuciamos:

--- Deve ter sido uma grande farra.

Copos de whisky, charutos descansando nos cinzeiros deixavam subir os últimos fios de fumaça ... deve realmente ter sido uma grande farra. Levantamos e caminhando pelo salão observamos cada detalhe, mais por curiosidade que por admiração, os lustres de cristal, as cortinas... tudo nos remetia ao esplendor do que ali houvera.

Havia pouco que os automóveis partiram queimando petróleo, o mesmo petróleo que sustentava a fartura que imaginamos ter havido naquilo que críamos uma grande farra. Quão tamanha a nossa decepção. Chegamos tarde!

Ficamos lá, cotovelos sobre a mesa, mãos no queixo, não adormecidos, mas dormentes, anestesiados. Por um longo tempo nos deixamos embriagar pelas emoções e olhamos, quase sem ver, para tudo aquilo. Até que despertamos deste estado de semiconsciência por um leve toque no ombro e a voz do garçom que dizia:

--- Senhor, a conta!


Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ
Representante Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

CORAGEM

Malala Yousafzai! Muitos de nós se lembrarão, ao ler este nome, da jovem paquistanesa que ousou desafiar o temido Talibã para defender o direito de meninas como ela à educação. Esta atitude quase lhe custou a vida e mesmo ante risco tão extremo, manteve-se firme. Os frutos de sua decisão mudaram e vão continuar mudando o destino das pessoas ao redor do mundo por muito tempo.

Trago à memória a história desta menina para ilustrar o quanto importantes são as nossas decisões e como elas podem ter consequências graves, mas ao mesmo tempo prodigiosas. Quando reli um resumo a respeito da jovem Malala para escrever este artigo, me lembrei da parábola dos talentos e de como o senhor havia se irado quando seu servo retornou-lhe o mesmo talento que tinha recebido sem aplicá-lo, tendo apenas o enterrado. A menina podia ter se acovardado diante da ameaça representada pelo Talibã, seria compreensível. Podia ter enterrado, por medo, seu talento e nada do que sucedeu teria se tornado realidade.

Muitas são às vezes em que nos furtamos a nossas responsabilidades, em que nos omitimos e não damos o nosso melhor a serviço do mundo. Ainda assim, nos indignamos, lamentamos e bradamos, mas, em tempos modernos, fazemos isso nas conversas entre amigos e em redes sociais. É como no refrão daquela música do grupo mineiro SKANK:

 “Nossa indignação é uma mosca sem asas que não ultrapassa as janelas de nossas casas”.

Poucos são os capazes de se comprometer com projetos e ideais a ponto de, para mudar o mundo, mudar a si mesmos. Alterar a forma de pensar, sair da zona de conforto, fazer parte da solução dos problemas que enfrentamos para tornar a realidade algo um pouco melhor ao menos. Vencer a batalha contra si mesmo é ato heroico para o qual não existe medalha. Buscar o crescimento, o amadurecimento, a evolução é tarefa cotidiana, como escovar os dentes (não basta muito uma vez só).

Deixo com desejo de que sirva de inspiração uma frase de outra música, desta vez do Rappa:

“Mas não me deixe sentar na poltrona no dia de domingo”.

Que tenhamos a coragem necessária para mudar o mundo a partir da mudança de nós mesmos!


Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ

Representante Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)