segunda-feira, 27 de junho de 2016

Esperança

“Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer”
(Geraldo Vandré)

A composição de sucesso, segunda colocada no festival de música de 1968, escrita em tempos outros, de realidade diversa a que vivemos, não pode ser chamada antiga por manter-se viva e atual no chamamento que nos faz a ação. 

Precisamos nos mobilizar na direção do futuro que desejamos viver, sermos a mudança que esperamos ver no mundo. Neste artigo, um tanto quanto musical, me permitam trazer outra referência, de que já me vali no passado, para ilustrar a necessidade de nos envolvermos na solução dos problemas que queremos ver superados.

“Às vezes eu falo com a vida
Às vezes é ela quem diz 
Qual a paz que eu não quero
Conservar
Para tentar ser feliz” 
(O Rappa)

Sair da zona de conforto, fazer diferença, não é fácil, mas é o único caminho para atingirmos o sucesso, seja lá em que campo de atuação for. Família, trabalho, empresa, estudos, política... apenas obteremos resultados diferentes ao agirmos de forma diversa da que se tem por hábito. 

Na filosofia/mitologia grega há corrente de pensamento que trata a esperança como sendo a última das desgraças saídas da caixa de pandora. Assim a tratam, por considerar que as pessoas, ao manter viva a esperança, não agem. Mantém-se em imóvel espera, ansiando por melhor destino ou por superar os males do mundo. Entretanto, devemos ver a esperança como a espera por resultados planejados, obtidos a partir de nossa ação. Racionais, mensuráveis e com os quais se pode contar com algum grau de certeza. Ainda que a garantia absoluta nos seja inalcançável.

Ao atuar desta forma alcançamos vitórias palpáveis como a que foi por nós, profissionais liberais, conseguida na questão do ISSQN (imposto sobre serviços de qualquer natureza). A mobilização e a capacidade de diálogo, junto aos órgãos públicos, se mostrou efetiva e, mesmo diante da necessidade de reposição das perdas fiscais, os representantes da prefeitura se mostraram sensíveis a argumentação dos profissionais, sendo, assim, possível um acordo.

Devemos ter a esperança de dias melhores que virão na medida de nossa disposição em romper com a falsa paz que nos dá a zona de conforto, que virão na medida de nossa disposição para fazer acontecer. A hora é agora e só depende de nós!

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Porto Seguro

Muitos são nossos desejos. Queremos uma cidade melhor, mais próspera, com saúde, educação e segurança de qualidade. Mas como fazê-lo diante das limitações impostas por orçamentos e pela insegurança quanto às fontes de financiamento? Carece pensarmos a sustentabilidade de nossas cidades, de nossos sistemas urbanos. Aqui compreendendo-se o termo sustentabilidade em significado amplo de dar suporte a um processo ou atividade, por um determinado período e não apenas como uso consciente de recursos naturais.
Ao pleitearmos a construção de mais postos de saúde, escolas, creches, hospitais, praças... não nos damos, por vezes, conta de que são necessários recursos de investimento (para a efetivação das obras, aquisição e instalação de equipamentos) e também verba para custeio, para por em funcionamento, e manter assim, os equipamentos públicos. Os recursos para essas finalidades são obtidos junto à população através dos impostos, das taxas e contribuições. No Estado do Rio de janeiro, em especial nos municípios que recebem royalties da indústria de óleo e gás, o crescimento da máquina pública se deu sob financiamento dos petrodólares (agora em crise) e de recolhimentos diversos de impostos, também impactados pela flutuação da cotação do barril de petróleo e câmbio, dentre outros fatores. 
O desafio que se apresenta é administrar um elevado comprometimento de recursos com custeio, manutenção da máquina pública, em cenário de quedas de receita de todas as origens. Como manter toda a estrutura de proteção social, folha de funcionalismo, estrutura da saúde, da educação e ainda realizar os investimentos de que nosso povo tanto precisa? 
Precisamos conduzir o nosso grande município através desse mar revolto. Precisamos gerar desenvolvimento dentro de nossas fronteiras, manter o dinheiro circulando na economia local, fazer com que se multipliquem os negócios, com que cresça a riqueza produzida em nosso território. Temos que estimular e aproveitar todo o potencial do campista na consolidação de uma estrutura de sociedade capaz de se sustentar ao longo do tempo, mantendo os serviços públicos numa dependência menor de recursos voláteis e incertos. A condução deste navio precisa ser entregue a comandante experiente e tripulação capaz, para que não acabemos todos naufragando. 
 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Recomeço

A perda do emprego, o atolamento em dívidas, uma reforma sem fim, relacionamentos que se acabam... situações ruins pelas quais quereríamos não ter de passar. Situações em que tudo parece perdido, as coisas nos fugindo ao controle, sentimos a aflição de não saber o rumo a tomar. Quando nos vemos assim, uma solução, talvez a melhor delas, é respirar fundo, parar tudo, esfriar a cabeça e começar de novo. E se não soubermos por onde começar? Então é melhor que seja pelo começo!

Precisamos ter a sensatez e a “Santa Desvergonha”, de que nos fala São Josemaria Escrivá, para sermos capazes de assumir erros e corrigir nossos rumos. É prudente que nos corrijamos desde o princípio e que tenhamos o zelo de cumprir cada etapa de nossos projetos com o máximo de empenho que nos seja possível. Esta é receita infalível para o sucesso!

Pensando assim o que deveríamos fazer diante de um sistema de saúde que, mesmo tendo sido criado a mais de 25 anos, ainda não foi implantado. Um SUS que permanece numa construção sem fim, num círculo de avanços e retrocessos que ao cabo de anos nos põem no mesmo lugar donde parece nunca termos saído?

Recomecemos! Recomecemos pelo princípio! Precisamos reestruturar a saúde básica, atuar na concepção de habitats dignos, saneados e seguros para a população. Precisamos de cobertura vacinal e de barreiras sanitárias para que o mal das Zicas do mundo não mais nos surpreenda. Precisamos atuar no estudo e na prevenção de doenças que sendo evitáveis ainda causam vítimas às centenas. Precisamos de pré-natais seguros, de infância assistida e plena... de velhice digna.

Várias possíveis soluções nos são apresentadas por estudiosos da saúde pública e não são aplicadas por deficiências de orçamento, de conhecimento e, principalmente, de gestão. O sistema de saúde da Inglaterra tem alguns bons exemplos a serem seguidos e, também, alguns erros para serem estudados e não repetidos. O estabelecimento de mecanismos de controle e avaliação eficazes, para a atuação do SUS, já seriam suficientes, para nos dar informações importantes no sentido de aperfeiçoamento do serviço. Na correção de distorções e na mais que necessária eliminação de desperdícios, ociosidades e ineficiências.


 Precisamos começar pelo começo, precisamos é de homens capazes para isso. Agora, quem faz a seleção é você!

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Sucessão

Temos preocupação maior que nossos filhos? Queremos que cresçam e se desenvolvam em plenitude, que sejam bons estudantes, bons profissionais, bons maridos ou esposas e por fim bons pais. Atentamos para que sejam capazes de dar continuidade a família após a nossa partida, para que sejam nossos sucessores. Nas empresas, a preparação da sucessão deve começar bem cedo, muito antes que se faça, de fato, necessária, a fim de que os esforços dos fundadores não sejam perdidos na geração seguinte.

Ainda assim, crendo terem todas as famílias em seus filhos o maior bem, assistimos a derrocada que produz a falta de preparação dos descendentes para substituírem seus pais. Rompimentos, desavenças e brigas por herança... afastamentos e divisões que tornam os laços frágeis. No mundo corporativo vemos grandes negócios se transformarem em nada, incapazes de tocar os afazeres, herdeiros dilapidam patrimônios construídos à custa de, não raras vezes, muitas gerações.

Relacionamento humano é política e, assim sendo, fica também a sucessão dos nossos governos sujeita as mesmas situações. Administrações bem avaliadas são sucedidas por líderes pífios e carentes de legitimidade que permitem que se ponha a perder tudo que a grande preço foi conquistado. Mas diferente do que ocorre com as famílias, onde os laços de sangue ditam a sucessão, na administração pública é o povo que decide quem serão os sucessores dos atuais mandatários.

Escolher um novo governo não significa estabelecer o rompimento com as administrações anteriores, mas selecionar representantes que renovem as lideranças sendo capazes de consolidar as conquistas já estabelecidas. Pessoas com capacidade, qualificação e, principalmente, sabedoria para ponderar e compreender os avanços obtidos, dentro do contexto social que vivemos, implementando novas medidas e até novos direcionamentos sem, contudo, descontinuar a tênue linha de avanço que as medidas de governos anteriores tenham estabelecido.

É bem difícil encontrar alguém com todas estas características e competências. Por isso as famílias, as empresas e também os governos tem tanta dificuldade em indicar sucessores. Precisamos nos preparar, ao longo dos anos, para a passagem do bastão nesta corrida de revezamento que é a vida. Precisamos compreender que haverá o tempo de permitir que outros assumam as responsabilidades e devemos, sempre, preparar a nós mesmos e aos nossos para este processo que, apesar de natural, não é simples.


Na escolha de novos líderes importa que não deixemos o estímulo que vem de novidades inconstantes embace nossos olhos e nos impeça de ver com clareza o rumo a tomar.

terça-feira, 31 de maio de 2016

Especialmente Você

Como as pessoas com necessidades especiais e suas famílias nos ensinam, o quanto são importantes para o nosso crescimento profissional e humano. Suas nuances de comportamento, suas carências, ao mesmo tempo, simples e complexas. Como ainda precisamos avançar em sua acolhida e assistência.

Por mais que existam programas que prevejam assistência à pessoa portadora de necessidades especiais, não vemos a sua adequada implantação, não vemos funcionar os mecanismos que deveriam contribuir com as famílias em busca de dignidade para si mesmas e para os seus tão especiais membros. Ainda são muitos os descaminhos na busca incessante por amparo, não raras vezes emergencial, à pessoa portadora de necessidades especiais.

Boa parte das famílias não tem acesso a informações básicas sobre os caminhos a percorrer para que tenham assegurados seus direitos. Os labirintos em que nos vemos postos pela burocracia do Estado são desconhecidos mesmo pelos profissionais, servidores públicos, e, não raras vezes, pelos próprios gestores. Ademais, as estruturas dos serviços são, via de regra, deficientes e desconectadas, não conversam entre si, tornando fragmentado o fluxo de resolução dos problemas e impedindo a atenção integral as necessidades das pessoas. Como então normatizar o fluxo de atendimento as famílias?


Precisamos criar caminhos claros e simplificados para o acesso aos serviços de saúde, aí não apenas para os portadores de necessidades especiais, mas para toda a população. Fluxos que sejam passíveis de ser compreendidos por todos, que sejam públicos e transparentes. Precisamos ter as listas de espera aos serviços mais especializados em cadastros únicos, com publicitação, quiçá na internet, de todos os pacientes que aguardam atendimento. Os critérios de prioridade precisam ser objetivos e públicos e os agendamentos das consultas realizados da forma mais humana possível, para que se acabe com o absurdo que é ver pessoas dormindo na ruas para tentar assegurar uma senha para atendimento. Precisamos de pessoas inteligentes, capazes e comprometidas com resultados para que possamos vislumbrar um futuro melhor no horizonte. 

terça-feira, 24 de maio de 2016

Limões

Outro dia, parado no trânsito, fui abordado por jovens, estudantes, que pediam dinheiro para algum projeto que não me recordo bem se a realização de uma festa, uma viagem ou assistência de alguma comunidade religiosa. A questão é que após a abordagem, não sei porque razão, me veio ao pensamento a imagem das barraquinhas de limonada que as crianças criam, nos Estados Unidos da América, para levantar fundos e de uma frase há muito por mim ouvida “ pegue os limões que a vida te dá e faça uma limonada”.

Tenho o hábito de me perder em pensamentos e a lentidão dos carros neste dia pareceu favorecer o processo. Lembrei-me da anexação do Ministério da Cultura pelo Ministério da Educação proposta pelo presidente em exercício, Michel Temer, e da revolta em alguns membros da categoria. Revolta que veio a ser questionada posteriormente, também por membros da categoria, por tratar-se do choro de indivíduos que perdiam privilégios.

Acabei por também me recordar da procissão de empresários ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) atrás de taxas subsidiadas e vantagens competitivas sobre seus concorrentes, verdadeiro capitalismo de compadres. Lembrei-me ainda do discurso da vitória pelo mérito destes mesmos beneficiários de programas especiais de tributação ou crédito quando atacavam os programas sociais e bolsas dos mais diversos tipos.

Com tristeza, me veio à lembrança as cenas de pessoas se acotovelando nas agências da Caixa Econômica Federal em busca de sacar recursos do programa Bolsa Família por medo de que deixassem de estar disponíveis num momento seguinte. Espetáculo deprimente da desfaçatez de políticas clientelistas e eleitoreiras que tem por fim apenas a vitória nas urnas e que em momento algum se prestam a pavimentar o caminho da dignidade a seus assistidos.

Terminei me perguntando quais as diferenças culturais, o ponto de inflexão da história, que teriam levado uma nação a ensinar aos seus, desde a mais tenra idade, a empreender e se esforçar para obter sucesso, a fazer uma limonada e outra a pedir dinheiro no sinal.  A vida nos dá a todos, eventualmente, nosso quinhão. Distribui, sorteia, as cartas do baralho com o qual deveremos jogar e desenvolver nosso potencial. A alguns dá pronta a limonada a outros azedos limões e o que deles fazemos é que dirá ao mundo quem somos.


terça-feira, 17 de maio de 2016

Família

Quando perguntados sobre o que mais nos importa, sobre o que é mais caro em nossas vidas, não duvidamos e a resposta costuma estar na ponta da língua. Minha família! Mas será? Será que nossas ações e, principalmente, nossas decisões e nossas escolhas refletem esta resposta?

Nossa vida é limitada no tempo e gastar tempo é gastar a vida. Despendemos vida quando trabalhamos, quando estudamos, quando assistimos a um jogo de futebol, quando passamos a tarde num barzinho... quando nos inserimos em uma sociedade de aparências e consumo não gastamos dinheiro, não gastamos apenas dinheiro, gastamos tempo, gastamos vida. Precisamos nos perguntar quanto de nosso tempo, quanto de nossa vida, despendemos com aquilo que mais nos importa. Temos que saber quanto da convivência conosco roubamos à nossa família para dar aos amigos, ao trabalho ou a televisão.

Temos nossos familiares na mais alta conta, mas não lhes damos senão migalhas de nós mesmos. Devemos cuidar dos nossos e dedicar-lhes o maior tempo possível, ainda que isto implique ter menos dinheiro para pagar por algumas necessidades da vida moderna como cursos no exterior, viagens de férias, um carro novo ou uma casa maior. Ao fim nossa presença é que terá feito falta, ao fim nossa ausência é que produzirá os maiores estragos deixando portas abertas para as mazelas do mundo invadirem nossa casa através dos vícios e do desamor.


Todos os dias entregamos nossa família a terceiros nas escolas, nos clubes, nos cursinhos, nas clínicas, nos hospitais e nas igrejas e muitas vezes não nos preocupamos em acompanhar o que acontece, em saber o quê as pessoas entregam de volta para nossa família. Se nossos entes queridos vão retornar destas experiências melhores que quando lá os entregamos. Será que sabemos efetivamente que tipo de educação é dada a nossos filhos? Será que nos preocupamos suficientemente com a qualidade da assistência a saúde que recebem? Será que damos a devida atenção as políticas que determinam o modo de vida a que nossa família será submetida? Não são nossas palavras, mas nossas atitudes que dizem o que realmente nos importa. Tome as decisões corretas por nossos filhos, por nossas famílias e por nós mesmos!

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Mulher

Em um mundo onde os “idealistas” concebem estereótipos que melhor justifiquem seus discursos e tentam aos gritos fazer valer suas posições, onde os que dizem defender os direitos da mulher não se furtam a atacar as mesmas quando fogem ao modelo idealístico. Não deve ser fácil ser mulher.

Preocupadas em agradar e parecer bem ao julgamento público a que são diuturnamente submetidas, muitas adoecem e chegam a perder a alegria de viver caindo em quadros aterradores de depressão. Precisam ser lindas, estar bem vestidas, ser bem sucedidas, casar, ter filhos, engajar-se em causas... ou não... em um paradoxo sem fim, capaz de enlouquecer mesmo o mais sensato dos seres humanos.

Responsáveis únicas por boa parte dos lares brasileiros, responsabilizadas quase que com exclusividade pela manutenção da família e educação dos filhos e tendo suas necessidades, notadamente as de saúde, negligenciadas, a mulher ainda precisa conquistar um espaço fundamental, precisa conquistar a liberdade. Liberdade de ser ou não, de querer ou não... a liberdade de ser igual tendo respeitadas suas diferenças.  

Um mundo que precisa de vagões exclusivos no metrô e de leis como a Maria da Penha não merece as mulheres que tem. E ainda assim, mesmo sem as merecermos, somos presenteados com suas doações, sim doações, porque a mulher, mais que qualquer outro ser vivente, sabe bem o sentido desta palavra. Doa-se ao mundo mesmo recebendo quase nada em troca, jamais espera muito mesmo, por saber ser seu amor impagável. Dedica-se a custa de sua própria vida, capaz de perdoar mesmo aos maiores crápulas.

Seremos dignos de uma sociedade melhor, de realidade mais fraterna, quando aprendermos com a mulher o sentido de doação. Quando ela puder andar sem medo, viver livre de dedos apontados e juízos imponderados. Quando jamais houver uma lágrima derramada sem amparo!

A você mãe, filha, esposa, avó...mulher toda a felicidade do mundo!

terça-feira, 3 de maio de 2016

Quando foi?

Somos tomados de assalto por dados que invadem nossos sentidos aos borbotões e ficamos num transe que obscurece o pensamento. Recebemos e reproduzimos milhões de correntes e frases prontas, como se fossem a essência da verdade absoluta, sem ao menos nos dar a um instante de reflexão, que seja, sobre o objeto a que apoiamos.

Pergunto-me quando foi? Quando foi que tudo isso começou? Quando substituímos a capacidade de pensar e inquirir a nós mesmos por frases de efeito e virais das redes de comunicação.

Assisto estupefato ao surgimento de heróis e vilões instantâneos. Figuras com a consistência de um macarrão, daqueles, que leva apenas três minutos para estar pronto. Descartados e esquecidos tão logo surjam os próximos super-heróis ou inimigos públicos número um. O acirramento de discursos com argumentos únicos e rasos me assusta e novamente me vejo diante da pergunta. Quando foi?

Quando foi que, tomados por uma avalanche de informações, nos tornamos cegos, surdos e insensíveis? Ideias que precisem de mais de um parágrafo para ser desenvolvidas ganharam apelido de “textão”. Especialistas já orientam a produzir vídeos com menos de um minuto, maiores que isso, quase não são assistidos. Não temos tempo para reflexão e, sem pensar, somos incapazes de nos aperceber inseridos em uma realidade semelhante à de um hamster que corre em sua roda, dia após dia, sem jamais sair do lugar.

“Uma imagem vale mais que mil palavras”. Este dito popular tem grande valia quando nos damos a descrever cenários, objetos ou pessoas. Uma fotografia nos diz mais a respeito de uma cena que um texto meramente descritivo. Entretanto, o discorrer sobre ideias e conceitos jamais poderá ser substituído por imagens ou frases de efeito, sob pena de vivermos uma ditadura da estupidez, do discurso raso e do acirramento de rivalidades. Algo semelhante ao que vemos hoje nas redes sociais, ódio, incitação à violência e o surgimento de vilões ou heróis instantâneos.

Nosso destino carece de nossos pensamentos para ser construído. Precisamos pensar, refletir e nos colocar no lugar de dirigentes de nossas próprias decisões. São nossas escolhas que vão determinar o futuro que teremos. Sólido, como alicerces de pedra, ou molenga, como macarrão. É você quem decide!

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ
Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)


terça-feira, 26 de abril de 2016

Ruínas

“Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína” esta frase do antropólogo Belga Claude Lévi-Strauss, que por um tempo esteve no Brasil, lecionando na USP (Universidade de São Paulo), ilustra bem a realidade que vivemos quando vamos falar de elaboração e execução de projetos nesta nossa terra.

A UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro) enfrenta grave crise, ameaçada de ter prejuízos irreparáveis por não ter suas contas pagas pelo governo estadual. Projeto grandioso do também antropólogo Darcy Ribeiro, de quem leva o nome, e de Leonel Brizola, governador do Estado do Rio de Janeiro a época, e que foi esperado com a ansiedade de pais que esperam seu primeiro filho.

A implantação do complexo trouxe nova relação de urbanidade ao entorno, se tornou vetor de crescimento da cidade, o bairro se revigorou com a injeção de recursos na economia local, as parcerias agregaram tecnologia ao setor produtivo e geraram novos negócios, emprego e renda para a população. Investimento em pesquisa e desenvolvimento descortina a nós, cidadãos fluminenses, novas possibilidades. Lança luz sobre todo um espectro, inacessível até então, na geração de receitas que nos tornem independentes dos royalties de petróleo, que nos distancie da “maldição do ouro negro”.

Um presente para a educação de nossos filhos e netos, esperança de crescimento e desenvolvimento econômico e social. A Universidade é uma construção permanente de saberes, de virtudes e de interesses humanos. Campo da diversidade de ideias e do debate plural e democrático deve sim ter data de fundação, mas jamais de encerramento. Deve ser recebida com júbilo de um nascimento, sem jamais ter de descer à cova onde agora a ameaçam por.

A educação precisa ser vista como Política de Estado, permanente e superior a partidos ou governos. Os prejuízos causados pela interrupção e pelo descarte de pesquisas são incalculáveis, os males causados a quem vê a oportunidade de crescer cerceada se perpetuam ao longo do tempo sem jamais poderem ser reparados. Tempo é vida e vidas perdidas não são passíveis de recuperação.

Negar educação é roubar a esperança e a autonomia das pessoas. Negar educação é roubar o futuro!

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ

Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)

terça-feira, 19 de abril de 2016

CONFIDÊNCIAS

Indignados com a crise por que passavam, os rendimentos já não eram como antes e estava cada vez mais difícil para sustentar as famílias e os negócios. O empobrecimento e a perda de qualidade de vida se estendiam por todas as classes sociais e o governo, insensível ao pranto do povo, se ocupava apenas de garantir a renda necessária para manter os benefícios da corte. As insurgências, queixas, eram logo desqualificadas sem nenhum pudor. Os envolvidos tinham sua honra atacada e mesmo para suas famílias não havia perdão. Ainda assim um grupo sonhou com a liberdade, um grupo, a elite local, ousou crer em ideais de prosperidade, em ideais republicanos.

O fim desta história conhecemos bem. Foram traídos, presos, suas propriedades confiscadas e o líder do movimento levado ao patíbulo, num teatro montado para chocar e servir de exemplo aos demais. Aqui sonhar é crime, questionar a autoridade e seus desmandos é crime de morte, liberdade e prosperidade são ofensas graves. Pobres heróis mineiros inconfidentes!

Libertas Quae Sera Tamen. O quão tardia está a liberdade com a qual ainda sonhamos, ainda cremos nos ideais republicanos, em governos orientados em benefício do povo, em homens públicos que respeitem os ideais democráticos e a alternância de poder. Como tardam a chegar tais homens, como tarda a chegar o tempo em que os governos não mais se preocuparão em desviar recursos para a manutenção do poder a qualquer preço. Como tarda a chegar o tempo em que os “inconfidentes” não sejam acusados e execrados como golpistas.

Clamamos, sobretudo por respeito!

Sabemos nos movimentar pelo terreno político, pântano lodoso que causa asco. Unimo-nos em comissões e confrarias para lutar a favor da livre iniciativa, contra os abusos das cortes e por um futuro próspero para a nossa gente. Já não precisamos nos esconder como os heróis mineiros e podemos disputar nas urnas pelo direito de tornar esta liberdade, já tardia, em realidade. Ansiamos por mudanças e espero que tenhamos melhor sorte que os inconfidentes.

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ
Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)



segunda-feira, 11 de abril de 2016

Política e Eleições

Acostumamo-nos a ver o trabalho político e a disputa eleitoral como uma coisa só. Observamos vir, de velhos no ofício, a retórica como único feito e lamentavelmente vemos novos nomes repetindo as mesmas ultrapassadas ações, sem promover uma renovação de fato. Bradar de sobre o palanque, da tribuna ou a partir de redes sociais e microfones da mídia tradicional; discursar sobre este ou aquele tema é apenas parte do que deveriam fazer os detentores de mandato e mesmo os aspirantes a cargo.
Exercer atividade política transcende a eleição e a ocupação de espaço nas estruturas de poder. Cabe a nós, eleitores, cobrarmos uma atuação efetiva, que impacte realmente nossas comunidades e não apenas inunde nossos ouvidos com palavras, não raras vezes, vazias de conteúdo. O jogo retórico, praticado a larga durante tantos anos, criou na população verdadeira ojeriza à participação política, de forma que, não se sente representada por políticos, por partidos, por associações de classe... Por ninguém!  

Ao homem público, animal político nas palavras de Aristóteles, cabe interessar-se pelo bem comum, sendo a contenda eleitoral apenas parte deste processo de aperfeiçoamento das relações humanas. Dar a política o significado que merece ter, após todo este tempo sendo execrada como atividade de vis, não é missão para qualquer um. As formações, não apenas formais, de bancos universitários, mas, também, morais e filosóficas dos postulantes a cargo nas próximas eleições devem ser cuidadosamente por nós consideradas.

Carecemos de homens públicos! Precisamos dar fim ao circo de horrores em que se transformou a cena política. Continuar tomando as mesmas decisões, apostando nas mesmas escolhas não tornará nada diferente. Seria loucura prosseguir tomando as mesmas atitudes e esperar outro resultado que não o obtido até então. Devemos tomar cuidado com a sedução que nos leva a ver como herói o dono de discursos inflamados, que parecem ler nossos pensamentos, quando são vazios de sentido prático, vazios de realizações e de impactos em nossas vidas.

O trabalho político de verdade, aquele que vai além do discurso sem efeito prático, passa pelo fortalecimento das instituições, pelo fortalecimento da sociedade civil e pelo estímulo ao surgimento de novas lideranças. Trabalho político que resgata a honra da atividade idealizada pelos antigos pensadores e filósofos para ser a mais nobre das atividades humanas. Homem político que impacta a realidade de seus semelhantes, da comunidade em que vivem. Capaz de pensar a inserção global de sua gente enquanto age naquilo que está a seu alcance com a visão de futuro capaz de conduzir a todos para uma realidade melhor. Na próxima vez que for apertar os botões da urna pense! Vote com o nosso futuro em sua mente!

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ

Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Além dos Sorrisos

Estamos Habituados a ver a odontologia e, por conseguinte, o cirurgião-dentista como um artista, um construtor de sorrisos. As modernas técnicas, os avanços da ciência e da indústria colocam a odontologia do Brasil entre as melhores do mundo. Contamos hoje com cerca de 25 por cento dos profissionais de odontologia do planeta e apesar de sermos reconhecidos pelos sorrisos que estampamos nos rostos dos pacientes, vamos muito além disso.

A introdução do cirurgião-dentista nas equipes que trabalham nas UTIs dos Hospitais é exemplo de atuação do profissional de odontologia na preservação de vidas. As ações de saúde bucal na terapia intensiva reduzem em 30% a ocorrência de pneumonias nos pacientes internados. Reduzindo, assim, o tempo de hospitalização e o consumo de medicamentos, o que resulta em menores custos para a administração e, principalmente, em mais vidas salvas.

A odontologia para pacientes com necessidades especiais, umas das especialidades da área, presta a adequada assistência a pessoas com condições que as tornam carentes de especiais atenção e cuidados em relação à média da população. Estão neste grupo os portadores de deficiência mental, deficiência física, anomalias congênitas (deformações, síndromes), distúrbios comportamentais (ex.: autismo), transtornos psiquiátricos, distúrbios sensoriais e de comunicação, doenças sistêmicas crônicas (diabetes, cardiopatias, doenças hematológicas, insuficiência renal crônica, doenças autoimunes etc.), doenças infectocontagiosas (hepatites, HIV, tuberculose), condições sistêmicas (irradiados, transplantados, oncológicos, gestantes, imunocomprometidos). Prestar adequada assistência a estes pacientes, além de questão meramente técnica, é ato de amor e humanidade.

Gestantes que são submetidas a adequados tratamento e controle das condições de saúde bucal tem período pré-natal mais agradável e com menores chances de intercorrências. A doença periodontal (doença das gengivas) é fator de risco para a ocorrência de partos prematuros e bebês de baixo peso. Esta doença, periodontite, ainda está associada a problemas cardíacos, osteoporose, diabetes e infecções no trato respiratório, entre outros.

Todos queremos emoldurar nossos momentos de alegria com aquele sorrir largo e luminoso que transmite a quem nos vê o quanto estamos felizes, mas lembre-se, odontologia vai muito além de um belo e radiante sorriso.

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ

Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)

terça-feira, 29 de março de 2016

VIVA AGORA

Durante a vida ouvimos muitos adágios populares, um dos mais comuns, diz “não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje” e, ainda outro, “tempo é dinheiro”. Ainda assim, perdemos tempo absurdamente ocupados, gastamos a vida nos consumindo em rotinas sem sentido. E nas palavras de Confúcio “vivemos como se não fossemos morrer e morremos como se não tivéssemos vivido”.

Agendas cheias fazem parte da vida de todos nós e mesmo as crianças, já são levadas de um lado a outro num intenso frenesi de atividades, como se não pudessem ter um segundo sequer de tempo “desperdiçado”. Adultos então, pobres almas, não podem ter ao menos uma noite de sono. Não tem tempo para brincadeiras de crianças, criam os filhos quase sem os ver. Terceirizam sua educação, às vezes, a quem também não a teve e tentam preencher o vazio de relacionamento com... coisas, com qualquer coisa, que não seja tempo. Por que já não o possuem, porque são agora vítimas do tempo contra o qual correm. O relógio, qual feitor, não os permite baixar a guarda, não é possível perder, afinal “tempo é dinheiro”.

Olhamos com saudade para um passado, que não vivemos, com disponibilidade para deixar-se, preguiçosamente, balançar na rede e jogar conversa fora com os vizinhos à porta, nas noites quentes de verão. Almoçar juntos, dedicarmo-nos aos cuidados uns dos outros e de nós mesmos.

Tempo é vida! Ao consumir nosso tempo, seja em que tarefa for, consumimos nossa vida e tal qual vela gasta pela chama, vamos nos aproximando do fim. Somos seres em eterna construção, mas precisamos compreender que duramos pela efemeridade de uma vida e nada mais. Deve ser terrível contemplar a face fria do fim se arrependendo dos abraços não dados, dos beijos não roubados, dos perdões não concedidos (ou pedidos), das horas felizes rolando pelo chão com as crianças...

É preciso filtrar as informações e selecionar as tarefas a que vamos nos dedicar. Fazer o que é importante hoje, deixar de procrastinar. E, se me permitem deixar um conselho, vivam como se fossem morrer!

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ
Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)


segunda-feira, 21 de março de 2016

Política, um ato de amor!

Falar de política me leva a buscar sua origem grega, politikos, significando aquilo que é comum a pólis, cidade/estado, como a arte ou ciência de cuidar do bem comum. Em oposição à preocupação com os próprios assuntos, sem se importar com o coletivo, que dá origem ao termo idiota que, em sua origem, designava o indivíduo privado, que não se metia com a coisa pública. O filósofo Mário Sérgio Cortella aborda brilhantemente o assunto em palestras e em seu livro intitulado “Política para não ser idiota”.

A política pode ser vista como a mais nobre, e talvez a mais difícil, das atividades humanas. Implica envolver-se com os problemas comuns, assumir parcelas de responsabilidade e tornar-se parte da solução destes entraves. A participação no jogo político exige grau elevado de desprendimento e, habitualmente, cobra um alto preço aos detentores do poder.

Exercer o poder consciente das limitações humanas e com o desapego próprio dos monges não é tarefa para qualquer pessoa. Aqueles que se apaixonam pelos cargos e suas benesses, os amantes da boa vida, acabam por destruir suas famílias, causam dor e sofrimento a milhares e terminam manchando irremediavelmente suas biografias.

Em Homilia proferida em Missa na Casa Santa Marta, o Papa Francisco disse que o empenho na política é um bom caminho para os fiéis. Mencionou ainda que todos temos algo a dar, que não podemos lavar as mãos. Lembrou também que o hábito comum de apenas falar mal dos governantes sem colaborar com a solução dos problemas é um mau caminho.

Devemos assumir nossas responsabilidades na construção de um mundo melhor, na consumação da atividade política como meio para a concepção do bem comum. Precisamos atuar na afirmação do título deste artigo “Política, um ato de amor” e ainda o complementando “Política, um ato de amor ao próximo!”. E você qual caminho vai escolher?


Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ

Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)

terça-feira, 15 de março de 2016

AURORA

Novas tecnologias impulsionam a comunicação. As notícias, falsas ou reais, giram pelo mundo num piscar de olhos. As necessidades de cada povo, em cada rincão, nos saltam aos olhos como se ali, na cozinha, tomassem um café. Sentimo-nos parte de um mundo que parece cada vez menor e se torna premente pensar para onde vamos, ou ao menos, para onde gostaríamos de ir, que destino quereríamos para este imenso globo azul.

As velhas práticas sendo questionadas com mais intensidade, novas gerações, novos interesses e perspectivas que à luz dos tempos se anunciam e, na velocidade de um raio, enchem de esperança os que se levantam, em substituição aos que cansados, de uma vida de lutas e decepções, se entregam.

Trevas ainda se agarram aos galhos retorcidos do tempo, prendem-se ao passado como querendo revivê-lo e tentam, em vão, impedir o ciclo da vida de seguir sua ordem, natural e imutável, de renovação. Aos poucos caem, esvaem pelos dedos suas últimas energias, debatem-se num último suspiro de agonia, uma tentativa derradeira de afirmar-se.

O novo, tímido ainda, nasce lentamente. Aos poucos quebra a casca que o mantinha alheio, se ergue e contempla o que tem ante a si. Vislumbra o mundo, o que foi, o que é. Sonha com o que poderia ter sido e com o que pode, ainda, ser.  

Contemplemos, também nós, esta nova aurora que surge e, com sua luz de esperança, dissipa as sombras que ainda teimam em se agarrar ao presente, quando fazem parte de um passado que queremos esquecer. Contemplemos este horizonte que se enche de luz e nos lancemos como águias em direção a nosso futuro.

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ
Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)



terça-feira, 8 de março de 2016

ASAS DA LIBERDADE

Em 1989 com o samba “LIBERDADE, LIBERDADE! ABRA AS ASAS SOBRE NÓS” a Imperatriz Leopoldinense encantou os brasileiros. Os versos Tratavam da abolição da escravatura e da proclamação da república, cujo hino lhes inspirou.

 Liberdade, liberdade!
Abra as asas sobre nós (bis)
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz

Já passadas semanas desde o carnaval, trago esta lembrança como homenagem à liberdade e para inspirar a nós, como aos sambistas, a pensar sobre ela. A pensar o quanto somos verdadeiramente livres e senhores dos nossos destinos. Maquiavel já tratava, em seu célebre livro “O Príncipe”, de discutir acerca do que seria acaso (fortuna) e do que seriam empenho e dedicação (virtude) nos resultados que podemos esperar. Dizia ele, que considerando a fortuna governar a metade do que nos ocorre, ela ainda nos permitiria determinar outros cinquenta por cento ou pouco menos.

Vivenciamos um período de crises moral, ética, política e financeira. Passamos por delicado momento em que somos acochados pelos governos a pagar pela incompetência gerencial com numerosos e, cada vez mais pesados, impostos e taxas. Os preços administrados pelo poder público puxam para cima a inflação que já atinge os dois dígitos, quem viveu o período anterior ao Plano Real sentiu na pele os efeitos devastadores que são causados pelo descontrole inflacionário.

A discussão que cabe é saber até que ponto somos vítimas (fortuna) ou algozes (virtude) de nosso próprio destino. Quanto deste terrível quadro não tem em nossas ações, ou omissões, sua origem? Levantemos nossas vozes enquanto ainda as temos! Manifestemos nossas vontades enquanto ainda o podemos! Construamos juntos um futuro diferente! E que nas lutas, sob as tempestades, tenhamos as Asas da Liberdade abertas sobre nós e sejamos capazes de ouvir-lhe a voz a nos guiar.

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ
Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)



quinta-feira, 3 de março de 2016

PELEGOS

A primeira vez que ouvi esta palavra, pelego, era ainda criança, foi ouvindo os discos de vinil do cantor e hoje deputado federal Sérgio Reis com a minha, já falecida, avó Dona Élvia, mineira de Guiricema. Na música Saco de Ouro dos compositores Paraíso e José Caetano Erba há uma estrofe como segue:

Do lampião quebrado, só resta o pavio
Pra lembrar o frio eu também guardei
Um pelego branco que perdeu o pêlo
Apesar do zelo com que eu cuidei
Também o cachimbo de canudo longo
Quantos pernilongos com ele espantei
Um estribo esquerdo, que guardei com jeito
Porque o direito na cerca quebrei


A expressão “pelegos” designando sindicatos, que abandonavam suas categorias profissionais e submetiam-se aos interesses dos patrões, fazia referência à peça que, assim como os sindicatos amaciavam os trabalhadores, servia para tornar mais cômoda a montaria. Ainda hoje nos entristece ver órgãos classistas (sindicatos, associações etc) deixarem desamparados aqueles a quem deveriam defender.

A sindicalização dos profissionais é de grande importância na luta por condições adequadas de trabalho e na preservação de direitos conquistados ao longo da história, não raras vezes, a duras penas. Muitos foram perseguidos, difamados e alguns chegaram a ser presos e pagar com a vida seu envolvimento nas disputas sindicais.

Hoje, 29 de fevereiro de 2016,o Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ) realiza Audiência para discussão da Saúde Pública. Este é mais um passo na afirmação da já reconhecida representatividade dos profissionais da categoria e, também, um passo importante na busca pela consolidação do SUS com condições adequadas de trabalho, reconhecimento dos profissionais e qualidade de saúde para a população.

Afinal, lugar de pelego é nos arreios!

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ
Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

HORIZONTES

O peso das responsabilidades que assumimos nos põe cabisbaixos e, assim, fitando nossos próprios pés, enxergamos apenas um curto espaço adiante. Afogados em preocupações somos por vezes incapazes de ver, ainda que de soslaio, alternativas. Somos incapazes de ver além de nós mesmos, incapazes de ver o outro. Assim, de cabeça baixa, nos arrastando pela vida e ansiando por dias melhores mantemos nosso horizonte no chão. Lamentamos e nos furtamos a participar da construção de uma realidade diferente por já não mais acreditar que seja possível. Mantemo-nos preocupados apenas com nós mesmos, agarrados, por medo do risco, a uma zona de conforto que em nada nos consola.

Precisamos mudar nossas atitudes em face dos obstáculos, tomar os problemas por desafios e arregaçar as mangas, sem pudor assumir as rédeas do destino tornando-nos artífices de nosso próprio futuro. Ao termos como norte o bem comum, ao guiarmo-nos pelo justo convívio humano, somos capazes de somar forças e assim, ombreados, iremos além do senso comum. Seremos juntos potentes o bastante para construir resultados que se fazem inimagináveis ao analisar o covil em que se transformou a nossa política.

A nossa caminhada em direção a um futuro melhor é construída de pequenos passos, direcionados por nossas decisões e, sejam estas boas ou ruins, o caminho continua a ser percorrido. Querendo ter bons frutos devemos pensar e ponderar a cada pequeno passo, devemos decidir com honra o rumo que daremos as nossas vidas.

Pensar o bem coletivo não é tarefa fácil. Enquanto humanos somos falhos e naturalmente egoístas, é necessário conscientemente nos esforçarmos num exercício de piedade e razão compreendendo que o bem comum, o bem de todos, também é nosso próprio bem e, neste caso, lançado sobre bases mais sólidas e duradouras.

Ergamos, pois, as cabeças! Levantemos nossos olhos, ampliemos nossos horizontes que o futuro nos espera
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Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ
Representante Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Senhor, a conta!

Chegamos tarde! Apesar de encontrarmos as cadeiras viradas sobre as mesas, ainda assim, nos sentamos e com aquele olhar boêmio, já meio com sono, observamos os restos do banquete que findara há pouco. Cá conosco imaginamos: deve ter sido uma grande farra. Garrafas derramadas, taças meio cheias e sobras de todo tipo denunciavam a fartura. E, assim, com os cotovelos apoiados sobre a mesa contemplamos tudo aquilo. Lamentamos pelo que poderia ter sido e pelo que acreditamos ter perdido.

A lua alta no céu denuncia a hora avançada, ao longe, se houve até mesmo o cantar de um galo... os cães ladram a cada carro que passa. A brisa fria da madrugada nos arrepia. Uma sensação estranha nos toma, estamos tristes. A festa acabou, a banda não tocava mais. Os que banquetearam já haviam partido e ali apenas nós e os restos.

Balbuciamos:

--- Deve ter sido uma grande farra.

Copos de whisky, charutos descansando nos cinzeiros deixavam subir os últimos fios de fumaça ... deve realmente ter sido uma grande farra. Levantamos e caminhando pelo salão observamos cada detalhe, mais por curiosidade que por admiração, os lustres de cristal, as cortinas... tudo nos remetia ao esplendor do que ali houvera.

Havia pouco que os automóveis partiram queimando petróleo, o mesmo petróleo que sustentava a fartura que imaginamos ter havido naquilo que críamos uma grande farra. Quão tamanha a nossa decepção. Chegamos tarde!

Ficamos lá, cotovelos sobre a mesa, mãos no queixo, não adormecidos, mas dormentes, anestesiados. Por um longo tempo nos deixamos embriagar pelas emoções e olhamos, quase sem ver, para tudo aquilo. Até que despertamos deste estado de semiconsciência por um leve toque no ombro e a voz do garçom que dizia:

--- Senhor, a conta!


Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ
Representante Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

CORAGEM

Malala Yousafzai! Muitos de nós se lembrarão, ao ler este nome, da jovem paquistanesa que ousou desafiar o temido Talibã para defender o direito de meninas como ela à educação. Esta atitude quase lhe custou a vida e mesmo ante risco tão extremo, manteve-se firme. Os frutos de sua decisão mudaram e vão continuar mudando o destino das pessoas ao redor do mundo por muito tempo.

Trago à memória a história desta menina para ilustrar o quanto importantes são as nossas decisões e como elas podem ter consequências graves, mas ao mesmo tempo prodigiosas. Quando reli um resumo a respeito da jovem Malala para escrever este artigo, me lembrei da parábola dos talentos e de como o senhor havia se irado quando seu servo retornou-lhe o mesmo talento que tinha recebido sem aplicá-lo, tendo apenas o enterrado. A menina podia ter se acovardado diante da ameaça representada pelo Talibã, seria compreensível. Podia ter enterrado, por medo, seu talento e nada do que sucedeu teria se tornado realidade.

Muitas são às vezes em que nos furtamos a nossas responsabilidades, em que nos omitimos e não damos o nosso melhor a serviço do mundo. Ainda assim, nos indignamos, lamentamos e bradamos, mas, em tempos modernos, fazemos isso nas conversas entre amigos e em redes sociais. É como no refrão daquela música do grupo mineiro SKANK:

 “Nossa indignação é uma mosca sem asas que não ultrapassa as janelas de nossas casas”.

Poucos são os capazes de se comprometer com projetos e ideais a ponto de, para mudar o mundo, mudar a si mesmos. Alterar a forma de pensar, sair da zona de conforto, fazer parte da solução dos problemas que enfrentamos para tornar a realidade algo um pouco melhor ao menos. Vencer a batalha contra si mesmo é ato heroico para o qual não existe medalha. Buscar o crescimento, o amadurecimento, a evolução é tarefa cotidiana, como escovar os dentes (não basta muito uma vez só).

Deixo com desejo de que sirva de inspiração uma frase de outra música, desta vez do Rappa:

“Mas não me deixe sentar na poltrona no dia de domingo”.

Que tenhamos a coragem necessária para mudar o mundo a partir da mudança de nós mesmos!


Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ

Representante Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)