terça-feira, 24 de maio de 2016

Limões

Outro dia, parado no trânsito, fui abordado por jovens, estudantes, que pediam dinheiro para algum projeto que não me recordo bem se a realização de uma festa, uma viagem ou assistência de alguma comunidade religiosa. A questão é que após a abordagem, não sei porque razão, me veio ao pensamento a imagem das barraquinhas de limonada que as crianças criam, nos Estados Unidos da América, para levantar fundos e de uma frase há muito por mim ouvida “ pegue os limões que a vida te dá e faça uma limonada”.

Tenho o hábito de me perder em pensamentos e a lentidão dos carros neste dia pareceu favorecer o processo. Lembrei-me da anexação do Ministério da Cultura pelo Ministério da Educação proposta pelo presidente em exercício, Michel Temer, e da revolta em alguns membros da categoria. Revolta que veio a ser questionada posteriormente, também por membros da categoria, por tratar-se do choro de indivíduos que perdiam privilégios.

Acabei por também me recordar da procissão de empresários ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) atrás de taxas subsidiadas e vantagens competitivas sobre seus concorrentes, verdadeiro capitalismo de compadres. Lembrei-me ainda do discurso da vitória pelo mérito destes mesmos beneficiários de programas especiais de tributação ou crédito quando atacavam os programas sociais e bolsas dos mais diversos tipos.

Com tristeza, me veio à lembrança as cenas de pessoas se acotovelando nas agências da Caixa Econômica Federal em busca de sacar recursos do programa Bolsa Família por medo de que deixassem de estar disponíveis num momento seguinte. Espetáculo deprimente da desfaçatez de políticas clientelistas e eleitoreiras que tem por fim apenas a vitória nas urnas e que em momento algum se prestam a pavimentar o caminho da dignidade a seus assistidos.

Terminei me perguntando quais as diferenças culturais, o ponto de inflexão da história, que teriam levado uma nação a ensinar aos seus, desde a mais tenra idade, a empreender e se esforçar para obter sucesso, a fazer uma limonada e outra a pedir dinheiro no sinal.  A vida nos dá a todos, eventualmente, nosso quinhão. Distribui, sorteia, as cartas do baralho com o qual deveremos jogar e desenvolver nosso potencial. A alguns dá pronta a limonada a outros azedos limões e o que deles fazemos é que dirá ao mundo quem somos.


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