Outro dia, parado no trânsito,
fui abordado por jovens, estudantes, que pediam dinheiro para algum projeto que
não me recordo bem se a realização de uma festa, uma viagem ou assistência de
alguma comunidade religiosa. A questão é que após a abordagem, não sei porque
razão, me veio ao pensamento a imagem das barraquinhas de limonada que as
crianças criam, nos Estados Unidos da América, para levantar fundos e de uma
frase há muito por mim ouvida “ pegue os limões que a vida te dá e faça uma
limonada”.
Tenho o hábito de me perder em
pensamentos e a lentidão dos carros neste dia pareceu favorecer o processo.
Lembrei-me da anexação do Ministério da Cultura pelo Ministério da Educação
proposta pelo presidente em exercício, Michel Temer, e da revolta em alguns
membros da categoria. Revolta que veio a ser questionada posteriormente, também
por membros da categoria, por tratar-se do choro de indivíduos que perdiam
privilégios.
Acabei por também me recordar da
procissão de empresários ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social) atrás de taxas subsidiadas e vantagens competitivas sobre seus
concorrentes, verdadeiro capitalismo de compadres. Lembrei-me ainda do discurso
da vitória pelo mérito destes mesmos beneficiários de programas especiais de
tributação ou crédito quando atacavam os programas sociais e bolsas dos mais
diversos tipos.
Com tristeza, me veio à lembrança
as cenas de pessoas se acotovelando nas agências da Caixa Econômica Federal em
busca de sacar recursos do programa Bolsa Família por medo de que deixassem de
estar disponíveis num momento seguinte. Espetáculo deprimente da desfaçatez de
políticas clientelistas e eleitoreiras que tem por fim apenas a vitória nas
urnas e que em momento algum se prestam a pavimentar o caminho da dignidade a
seus assistidos.
Terminei me perguntando quais as
diferenças culturais, o ponto de inflexão da história, que teriam levado uma
nação a ensinar aos seus, desde a mais tenra idade, a empreender e se esforçar
para obter sucesso, a fazer uma limonada e outra a pedir dinheiro no sinal. A vida nos dá a todos, eventualmente, nosso
quinhão. Distribui, sorteia, as cartas do baralho com o qual deveremos jogar e
desenvolver nosso potencial. A alguns dá pronta a limonada a outros azedos
limões e o que deles fazemos é que dirá ao mundo quem somos.
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