terça-feira, 26 de abril de 2016

Ruínas

“Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína” esta frase do antropólogo Belga Claude Lévi-Strauss, que por um tempo esteve no Brasil, lecionando na USP (Universidade de São Paulo), ilustra bem a realidade que vivemos quando vamos falar de elaboração e execução de projetos nesta nossa terra.

A UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro) enfrenta grave crise, ameaçada de ter prejuízos irreparáveis por não ter suas contas pagas pelo governo estadual. Projeto grandioso do também antropólogo Darcy Ribeiro, de quem leva o nome, e de Leonel Brizola, governador do Estado do Rio de Janeiro a época, e que foi esperado com a ansiedade de pais que esperam seu primeiro filho.

A implantação do complexo trouxe nova relação de urbanidade ao entorno, se tornou vetor de crescimento da cidade, o bairro se revigorou com a injeção de recursos na economia local, as parcerias agregaram tecnologia ao setor produtivo e geraram novos negócios, emprego e renda para a população. Investimento em pesquisa e desenvolvimento descortina a nós, cidadãos fluminenses, novas possibilidades. Lança luz sobre todo um espectro, inacessível até então, na geração de receitas que nos tornem independentes dos royalties de petróleo, que nos distancie da “maldição do ouro negro”.

Um presente para a educação de nossos filhos e netos, esperança de crescimento e desenvolvimento econômico e social. A Universidade é uma construção permanente de saberes, de virtudes e de interesses humanos. Campo da diversidade de ideias e do debate plural e democrático deve sim ter data de fundação, mas jamais de encerramento. Deve ser recebida com júbilo de um nascimento, sem jamais ter de descer à cova onde agora a ameaçam por.

A educação precisa ser vista como Política de Estado, permanente e superior a partidos ou governos. Os prejuízos causados pela interrupção e pelo descarte de pesquisas são incalculáveis, os males causados a quem vê a oportunidade de crescer cerceada se perpetuam ao longo do tempo sem jamais poderem ser reparados. Tempo é vida e vidas perdidas não são passíveis de recuperação.

Negar educação é roubar a esperança e a autonomia das pessoas. Negar educação é roubar o futuro!

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ

Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)

terça-feira, 19 de abril de 2016

CONFIDÊNCIAS

Indignados com a crise por que passavam, os rendimentos já não eram como antes e estava cada vez mais difícil para sustentar as famílias e os negócios. O empobrecimento e a perda de qualidade de vida se estendiam por todas as classes sociais e o governo, insensível ao pranto do povo, se ocupava apenas de garantir a renda necessária para manter os benefícios da corte. As insurgências, queixas, eram logo desqualificadas sem nenhum pudor. Os envolvidos tinham sua honra atacada e mesmo para suas famílias não havia perdão. Ainda assim um grupo sonhou com a liberdade, um grupo, a elite local, ousou crer em ideais de prosperidade, em ideais republicanos.

O fim desta história conhecemos bem. Foram traídos, presos, suas propriedades confiscadas e o líder do movimento levado ao patíbulo, num teatro montado para chocar e servir de exemplo aos demais. Aqui sonhar é crime, questionar a autoridade e seus desmandos é crime de morte, liberdade e prosperidade são ofensas graves. Pobres heróis mineiros inconfidentes!

Libertas Quae Sera Tamen. O quão tardia está a liberdade com a qual ainda sonhamos, ainda cremos nos ideais republicanos, em governos orientados em benefício do povo, em homens públicos que respeitem os ideais democráticos e a alternância de poder. Como tardam a chegar tais homens, como tarda a chegar o tempo em que os governos não mais se preocuparão em desviar recursos para a manutenção do poder a qualquer preço. Como tarda a chegar o tempo em que os “inconfidentes” não sejam acusados e execrados como golpistas.

Clamamos, sobretudo por respeito!

Sabemos nos movimentar pelo terreno político, pântano lodoso que causa asco. Unimo-nos em comissões e confrarias para lutar a favor da livre iniciativa, contra os abusos das cortes e por um futuro próspero para a nossa gente. Já não precisamos nos esconder como os heróis mineiros e podemos disputar nas urnas pelo direito de tornar esta liberdade, já tardia, em realidade. Ansiamos por mudanças e espero que tenhamos melhor sorte que os inconfidentes.

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ
Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)



segunda-feira, 11 de abril de 2016

Política e Eleições

Acostumamo-nos a ver o trabalho político e a disputa eleitoral como uma coisa só. Observamos vir, de velhos no ofício, a retórica como único feito e lamentavelmente vemos novos nomes repetindo as mesmas ultrapassadas ações, sem promover uma renovação de fato. Bradar de sobre o palanque, da tribuna ou a partir de redes sociais e microfones da mídia tradicional; discursar sobre este ou aquele tema é apenas parte do que deveriam fazer os detentores de mandato e mesmo os aspirantes a cargo.
Exercer atividade política transcende a eleição e a ocupação de espaço nas estruturas de poder. Cabe a nós, eleitores, cobrarmos uma atuação efetiva, que impacte realmente nossas comunidades e não apenas inunde nossos ouvidos com palavras, não raras vezes, vazias de conteúdo. O jogo retórico, praticado a larga durante tantos anos, criou na população verdadeira ojeriza à participação política, de forma que, não se sente representada por políticos, por partidos, por associações de classe... Por ninguém!  

Ao homem público, animal político nas palavras de Aristóteles, cabe interessar-se pelo bem comum, sendo a contenda eleitoral apenas parte deste processo de aperfeiçoamento das relações humanas. Dar a política o significado que merece ter, após todo este tempo sendo execrada como atividade de vis, não é missão para qualquer um. As formações, não apenas formais, de bancos universitários, mas, também, morais e filosóficas dos postulantes a cargo nas próximas eleições devem ser cuidadosamente por nós consideradas.

Carecemos de homens públicos! Precisamos dar fim ao circo de horrores em que se transformou a cena política. Continuar tomando as mesmas decisões, apostando nas mesmas escolhas não tornará nada diferente. Seria loucura prosseguir tomando as mesmas atitudes e esperar outro resultado que não o obtido até então. Devemos tomar cuidado com a sedução que nos leva a ver como herói o dono de discursos inflamados, que parecem ler nossos pensamentos, quando são vazios de sentido prático, vazios de realizações e de impactos em nossas vidas.

O trabalho político de verdade, aquele que vai além do discurso sem efeito prático, passa pelo fortalecimento das instituições, pelo fortalecimento da sociedade civil e pelo estímulo ao surgimento de novas lideranças. Trabalho político que resgata a honra da atividade idealizada pelos antigos pensadores e filósofos para ser a mais nobre das atividades humanas. Homem político que impacta a realidade de seus semelhantes, da comunidade em que vivem. Capaz de pensar a inserção global de sua gente enquanto age naquilo que está a seu alcance com a visão de futuro capaz de conduzir a todos para uma realidade melhor. Na próxima vez que for apertar os botões da urna pense! Vote com o nosso futuro em sua mente!

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ

Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Além dos Sorrisos

Estamos Habituados a ver a odontologia e, por conseguinte, o cirurgião-dentista como um artista, um construtor de sorrisos. As modernas técnicas, os avanços da ciência e da indústria colocam a odontologia do Brasil entre as melhores do mundo. Contamos hoje com cerca de 25 por cento dos profissionais de odontologia do planeta e apesar de sermos reconhecidos pelos sorrisos que estampamos nos rostos dos pacientes, vamos muito além disso.

A introdução do cirurgião-dentista nas equipes que trabalham nas UTIs dos Hospitais é exemplo de atuação do profissional de odontologia na preservação de vidas. As ações de saúde bucal na terapia intensiva reduzem em 30% a ocorrência de pneumonias nos pacientes internados. Reduzindo, assim, o tempo de hospitalização e o consumo de medicamentos, o que resulta em menores custos para a administração e, principalmente, em mais vidas salvas.

A odontologia para pacientes com necessidades especiais, umas das especialidades da área, presta a adequada assistência a pessoas com condições que as tornam carentes de especiais atenção e cuidados em relação à média da população. Estão neste grupo os portadores de deficiência mental, deficiência física, anomalias congênitas (deformações, síndromes), distúrbios comportamentais (ex.: autismo), transtornos psiquiátricos, distúrbios sensoriais e de comunicação, doenças sistêmicas crônicas (diabetes, cardiopatias, doenças hematológicas, insuficiência renal crônica, doenças autoimunes etc.), doenças infectocontagiosas (hepatites, HIV, tuberculose), condições sistêmicas (irradiados, transplantados, oncológicos, gestantes, imunocomprometidos). Prestar adequada assistência a estes pacientes, além de questão meramente técnica, é ato de amor e humanidade.

Gestantes que são submetidas a adequados tratamento e controle das condições de saúde bucal tem período pré-natal mais agradável e com menores chances de intercorrências. A doença periodontal (doença das gengivas) é fator de risco para a ocorrência de partos prematuros e bebês de baixo peso. Esta doença, periodontite, ainda está associada a problemas cardíacos, osteoporose, diabetes e infecções no trato respiratório, entre outros.

Todos queremos emoldurar nossos momentos de alegria com aquele sorrir largo e luminoso que transmite a quem nos vê o quanto estamos felizes, mas lembre-se, odontologia vai muito além de um belo e radiante sorriso.

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ

Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)