terça-feira, 31 de maio de 2016

Especialmente Você

Como as pessoas com necessidades especiais e suas famílias nos ensinam, o quanto são importantes para o nosso crescimento profissional e humano. Suas nuances de comportamento, suas carências, ao mesmo tempo, simples e complexas. Como ainda precisamos avançar em sua acolhida e assistência.

Por mais que existam programas que prevejam assistência à pessoa portadora de necessidades especiais, não vemos a sua adequada implantação, não vemos funcionar os mecanismos que deveriam contribuir com as famílias em busca de dignidade para si mesmas e para os seus tão especiais membros. Ainda são muitos os descaminhos na busca incessante por amparo, não raras vezes emergencial, à pessoa portadora de necessidades especiais.

Boa parte das famílias não tem acesso a informações básicas sobre os caminhos a percorrer para que tenham assegurados seus direitos. Os labirintos em que nos vemos postos pela burocracia do Estado são desconhecidos mesmo pelos profissionais, servidores públicos, e, não raras vezes, pelos próprios gestores. Ademais, as estruturas dos serviços são, via de regra, deficientes e desconectadas, não conversam entre si, tornando fragmentado o fluxo de resolução dos problemas e impedindo a atenção integral as necessidades das pessoas. Como então normatizar o fluxo de atendimento as famílias?


Precisamos criar caminhos claros e simplificados para o acesso aos serviços de saúde, aí não apenas para os portadores de necessidades especiais, mas para toda a população. Fluxos que sejam passíveis de ser compreendidos por todos, que sejam públicos e transparentes. Precisamos ter as listas de espera aos serviços mais especializados em cadastros únicos, com publicitação, quiçá na internet, de todos os pacientes que aguardam atendimento. Os critérios de prioridade precisam ser objetivos e públicos e os agendamentos das consultas realizados da forma mais humana possível, para que se acabe com o absurdo que é ver pessoas dormindo na ruas para tentar assegurar uma senha para atendimento. Precisamos de pessoas inteligentes, capazes e comprometidas com resultados para que possamos vislumbrar um futuro melhor no horizonte. 

terça-feira, 24 de maio de 2016

Limões

Outro dia, parado no trânsito, fui abordado por jovens, estudantes, que pediam dinheiro para algum projeto que não me recordo bem se a realização de uma festa, uma viagem ou assistência de alguma comunidade religiosa. A questão é que após a abordagem, não sei porque razão, me veio ao pensamento a imagem das barraquinhas de limonada que as crianças criam, nos Estados Unidos da América, para levantar fundos e de uma frase há muito por mim ouvida “ pegue os limões que a vida te dá e faça uma limonada”.

Tenho o hábito de me perder em pensamentos e a lentidão dos carros neste dia pareceu favorecer o processo. Lembrei-me da anexação do Ministério da Cultura pelo Ministério da Educação proposta pelo presidente em exercício, Michel Temer, e da revolta em alguns membros da categoria. Revolta que veio a ser questionada posteriormente, também por membros da categoria, por tratar-se do choro de indivíduos que perdiam privilégios.

Acabei por também me recordar da procissão de empresários ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) atrás de taxas subsidiadas e vantagens competitivas sobre seus concorrentes, verdadeiro capitalismo de compadres. Lembrei-me ainda do discurso da vitória pelo mérito destes mesmos beneficiários de programas especiais de tributação ou crédito quando atacavam os programas sociais e bolsas dos mais diversos tipos.

Com tristeza, me veio à lembrança as cenas de pessoas se acotovelando nas agências da Caixa Econômica Federal em busca de sacar recursos do programa Bolsa Família por medo de que deixassem de estar disponíveis num momento seguinte. Espetáculo deprimente da desfaçatez de políticas clientelistas e eleitoreiras que tem por fim apenas a vitória nas urnas e que em momento algum se prestam a pavimentar o caminho da dignidade a seus assistidos.

Terminei me perguntando quais as diferenças culturais, o ponto de inflexão da história, que teriam levado uma nação a ensinar aos seus, desde a mais tenra idade, a empreender e se esforçar para obter sucesso, a fazer uma limonada e outra a pedir dinheiro no sinal.  A vida nos dá a todos, eventualmente, nosso quinhão. Distribui, sorteia, as cartas do baralho com o qual deveremos jogar e desenvolver nosso potencial. A alguns dá pronta a limonada a outros azedos limões e o que deles fazemos é que dirá ao mundo quem somos.


terça-feira, 17 de maio de 2016

Família

Quando perguntados sobre o que mais nos importa, sobre o que é mais caro em nossas vidas, não duvidamos e a resposta costuma estar na ponta da língua. Minha família! Mas será? Será que nossas ações e, principalmente, nossas decisões e nossas escolhas refletem esta resposta?

Nossa vida é limitada no tempo e gastar tempo é gastar a vida. Despendemos vida quando trabalhamos, quando estudamos, quando assistimos a um jogo de futebol, quando passamos a tarde num barzinho... quando nos inserimos em uma sociedade de aparências e consumo não gastamos dinheiro, não gastamos apenas dinheiro, gastamos tempo, gastamos vida. Precisamos nos perguntar quanto de nosso tempo, quanto de nossa vida, despendemos com aquilo que mais nos importa. Temos que saber quanto da convivência conosco roubamos à nossa família para dar aos amigos, ao trabalho ou a televisão.

Temos nossos familiares na mais alta conta, mas não lhes damos senão migalhas de nós mesmos. Devemos cuidar dos nossos e dedicar-lhes o maior tempo possível, ainda que isto implique ter menos dinheiro para pagar por algumas necessidades da vida moderna como cursos no exterior, viagens de férias, um carro novo ou uma casa maior. Ao fim nossa presença é que terá feito falta, ao fim nossa ausência é que produzirá os maiores estragos deixando portas abertas para as mazelas do mundo invadirem nossa casa através dos vícios e do desamor.


Todos os dias entregamos nossa família a terceiros nas escolas, nos clubes, nos cursinhos, nas clínicas, nos hospitais e nas igrejas e muitas vezes não nos preocupamos em acompanhar o que acontece, em saber o quê as pessoas entregam de volta para nossa família. Se nossos entes queridos vão retornar destas experiências melhores que quando lá os entregamos. Será que sabemos efetivamente que tipo de educação é dada a nossos filhos? Será que nos preocupamos suficientemente com a qualidade da assistência a saúde que recebem? Será que damos a devida atenção as políticas que determinam o modo de vida a que nossa família será submetida? Não são nossas palavras, mas nossas atitudes que dizem o que realmente nos importa. Tome as decisões corretas por nossos filhos, por nossas famílias e por nós mesmos!

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Mulher

Em um mundo onde os “idealistas” concebem estereótipos que melhor justifiquem seus discursos e tentam aos gritos fazer valer suas posições, onde os que dizem defender os direitos da mulher não se furtam a atacar as mesmas quando fogem ao modelo idealístico. Não deve ser fácil ser mulher.

Preocupadas em agradar e parecer bem ao julgamento público a que são diuturnamente submetidas, muitas adoecem e chegam a perder a alegria de viver caindo em quadros aterradores de depressão. Precisam ser lindas, estar bem vestidas, ser bem sucedidas, casar, ter filhos, engajar-se em causas... ou não... em um paradoxo sem fim, capaz de enlouquecer mesmo o mais sensato dos seres humanos.

Responsáveis únicas por boa parte dos lares brasileiros, responsabilizadas quase que com exclusividade pela manutenção da família e educação dos filhos e tendo suas necessidades, notadamente as de saúde, negligenciadas, a mulher ainda precisa conquistar um espaço fundamental, precisa conquistar a liberdade. Liberdade de ser ou não, de querer ou não... a liberdade de ser igual tendo respeitadas suas diferenças.  

Um mundo que precisa de vagões exclusivos no metrô e de leis como a Maria da Penha não merece as mulheres que tem. E ainda assim, mesmo sem as merecermos, somos presenteados com suas doações, sim doações, porque a mulher, mais que qualquer outro ser vivente, sabe bem o sentido desta palavra. Doa-se ao mundo mesmo recebendo quase nada em troca, jamais espera muito mesmo, por saber ser seu amor impagável. Dedica-se a custa de sua própria vida, capaz de perdoar mesmo aos maiores crápulas.

Seremos dignos de uma sociedade melhor, de realidade mais fraterna, quando aprendermos com a mulher o sentido de doação. Quando ela puder andar sem medo, viver livre de dedos apontados e juízos imponderados. Quando jamais houver uma lágrima derramada sem amparo!

A você mãe, filha, esposa, avó...mulher toda a felicidade do mundo!

terça-feira, 3 de maio de 2016

Quando foi?

Somos tomados de assalto por dados que invadem nossos sentidos aos borbotões e ficamos num transe que obscurece o pensamento. Recebemos e reproduzimos milhões de correntes e frases prontas, como se fossem a essência da verdade absoluta, sem ao menos nos dar a um instante de reflexão, que seja, sobre o objeto a que apoiamos.

Pergunto-me quando foi? Quando foi que tudo isso começou? Quando substituímos a capacidade de pensar e inquirir a nós mesmos por frases de efeito e virais das redes de comunicação.

Assisto estupefato ao surgimento de heróis e vilões instantâneos. Figuras com a consistência de um macarrão, daqueles, que leva apenas três minutos para estar pronto. Descartados e esquecidos tão logo surjam os próximos super-heróis ou inimigos públicos número um. O acirramento de discursos com argumentos únicos e rasos me assusta e novamente me vejo diante da pergunta. Quando foi?

Quando foi que, tomados por uma avalanche de informações, nos tornamos cegos, surdos e insensíveis? Ideias que precisem de mais de um parágrafo para ser desenvolvidas ganharam apelido de “textão”. Especialistas já orientam a produzir vídeos com menos de um minuto, maiores que isso, quase não são assistidos. Não temos tempo para reflexão e, sem pensar, somos incapazes de nos aperceber inseridos em uma realidade semelhante à de um hamster que corre em sua roda, dia após dia, sem jamais sair do lugar.

“Uma imagem vale mais que mil palavras”. Este dito popular tem grande valia quando nos damos a descrever cenários, objetos ou pessoas. Uma fotografia nos diz mais a respeito de uma cena que um texto meramente descritivo. Entretanto, o discorrer sobre ideias e conceitos jamais poderá ser substituído por imagens ou frases de efeito, sob pena de vivermos uma ditadura da estupidez, do discurso raso e do acirramento de rivalidades. Algo semelhante ao que vemos hoje nas redes sociais, ódio, incitação à violência e o surgimento de vilões ou heróis instantâneos.

Nosso destino carece de nossos pensamentos para ser construído. Precisamos pensar, refletir e nos colocar no lugar de dirigentes de nossas próprias decisões. São nossas escolhas que vão determinar o futuro que teremos. Sólido, como alicerces de pedra, ou molenga, como macarrão. É você quem decide!

Alexandre Buchaul
Cirurgião-dentista
Especialista em Ortodontia
Qualificação em Gestão em Saúde no SUS – TCERJ
Delegado Regional do Sindicato dos Cirurgiões-Dentistas no Estado do Rio de Janeiro (SCDRJ)